Summer Wars é uma das mais recentes novidades da JBC, junto de Code Geass e Fairy Tail (lançado no fim do ano passado); mas ao contrário dos outros dois lançamentos, este é um projeto um pouco mais artisticamente ambicioso. A versão em quadrinhos é, na verdade, adaptação do filme de Mamoru Hosoda (responsável por The Girl Who Leapt Through Time de 2006) lançado em 2009 pela Madhouse em parceria com a Warner, ganhador de vários prêmios internacionais e que perdeu a vaga de nominação ao Oscar de Melhor Animação deste ano (é, parece que os velhos da Academia só aprovam se for Ghibli). Esta versão em mangá foi lançada um pouco antes do filme, como parte da estratégia de marketing, mas toma caminhos diferentes do longa-metragem.
Temos aqui mais um daqueles protagonistas com nenhuma auto-estima, Kenji Koiso, que vive repetindo para si mesmo que nada do que ele faz dá certo; quando na realidade ele é um gênio com números, que por pouco não representou o Japão nas Olimpíadas de Matemática. Ele também realiza serviços de baixa dificuldade na manutenção do sistema OZ, uma espécie de Second Life que deu certo, onde praticamente todas as operações financeiras, legais, políticas e práticas do dia-a-dia são realizadas. Kenji é convidado pela garota mais popular da escola, Natsuki, para ajudá-la numa viagem, cujo objetivo ele desconhece. Lá, ele é apresentado à matriarca da família, Jinnouchi Sakae, como namorado e futuro noivo de Natsuki, e entra “de gaiato” na importantíssima reunião de família do clã dos Sakae.
Até aí temos uma comédia romântica padrão, com seus desentendimentos, reviravoltas e paixões platônicas que já estamos acostumados a ver; nenhuma surpresa. Mas a história cresce quando Kenji recebe o desafio de quebrar um código, sem saber que este é o código de segurança de OZ, abrindo caminho para um vírus chamado Love Machine engolir contas de usuários de todo o sistema, e bagunçar a vida dos cidadãos do Japão (e provavelmente do mundo, apesar do mangá não abordar outros lugares) ao enlouquecer sinais de trânsito, fazer chamadas de emergência para a polícia e os bombeiros, entre outros problemas, gerando caos por todo o país. Kenji é, claro, declarado suspeito, e a guerra contra a Love Machine começa.
Com esse background seria fácil criar mais um ‘Digimon’ genérico, e mostrar batalhas virtuais contra o vírus, e grandes explosões de poder, mas Summer Wars prefere uma abordagem mais relevante. Me parece que Summer Wars, na verdade, é um olhar sobre a família japonesa. A família de Natsuki é uma daquelas tradicionalíssimas famílias de samurais; muitos membros se orgulham de que, um dia, sua família defendeu o clã dos Takeda. Ao mesmo tempo, temos o garoto Kazuma, que não liga nem um pouco para a reunião ou a tradição, e se concentra em seu personagem/perfil em OZ, King Kazma. Existem as velhas rixas entre a “família principal” e a “segunda família”; o preconceito com o filho bastardo, remanescente de antigos costumes, mas que hoje parecem deslocados; todos elementos que culminam no que, para mim, é o grande tema de Summer Wars: o velho vs. o novo, a tradição vs. os novos costumes.
Quando a crise estoura em OZ, por exemplo, a solução achada pela matriarca, símbolo da tradição, mas, curiosamente, uma das mais tolerantes com os novos costumes, é apelar para o bom e velho telefone para entrar em contato com sua família, que penetrou em todas as áreas da vida japonesa, da polícia ao corpo médico (no entanto, me parece estranho que as linhas telefônicas nao sejam controladas por OZ). Ou seja: quando o virtual não funciona, a solução é o contato direto com as pessoas, ouvir a voz verdadeira do seu próximo, fazer o que muitos hoje deixaram de lado: o contato humano “real”.
Ao mesmo tempo, o garoto Kazuma demonstra uma certa mágoa com o orgulho que a família tem de seus membros proeminentes na sociedade, e parece querer que também se orgulhem dele, já que ele é o melhor do mundo nas lutas virtuais, que ele classifica como esporte.
O mangá, como já dito anteriormente, diverge do filme em abordagem (o autor original diz que esta versão é mais focada no relacionamento dos dois personagens principais) e em plot (o final será diferente), de acordo com as notas corretamente deixadas na edição da JBC ao fim do primeiro volume. Portanto se você já assistiu ao filme, que esperamos que seja lançado em DVD por aqui, conferir o mangá não será tempo perdido.
O character design original é de Yoshiyuki Sadamoto, responsável pela arte de inúmeras obras da Gainax, incluindo o animê de Evangelion e sua versão em quadrinhos, frustrantemente deixada de lado (pelo jeito, devido a projetos paralelos como esse – menos mal); já para este mangá foi escalado Iqura Sugimoto, que obviamente tem um estilo diferente, mas mesmo assim bastante eficiente. A única perda grande é notada em cenas que se passam no sistema OZ: foi feita a transposição de cenas geradas em CG direto para as páginas em papel, ao invés de arte original à mão. O choque da diferença incomoda um pouco, além de ser infinitamente inferior à belíssima animação do filme. Mas suponho que seja inevitável. Pelo menos desperta a nossa vontade de conferir a animação original.
Summer Wars tem seus problemas, sim (exemplo: “coincidentemente” o cara que quebrou o código do sistema, o melhor lutador do mundo virtual e a pessoa responsável pela crise estão todos relacionados e sob o mesmo teto…), e eu espero que o mangá não se concentre demais em lutinhas virtuais – já temos os shounens genéricos para isso. Além disso, uma publicação dessa magnitude deveria ter um cuidado maior por parte da JBC. Talvez publicá-lo com o mesmo padrão das “graphic novels” da editora, como Golgo 13, com papel de maior qualidade, e, quem sabe, páginas coloridas. Mas esse é um lançamento que vale muito a pena conferir, e uma ótima sacada da JBC.
Leo Kitsune analisa animês e mangás no videocast do blog Video Quest.
Título: Summer Wars
Autores: Mamoru Hosoda, Iqura Sugimoto (mangá)
Formato: 13,5 × 20,5, cerca de 200 páginas
Duração: 3 volumes
Periodicidade: Mensal
Preço: R$10,90
Demográfico: Seinen
Gênero: Romance, Ficção Científica
Autores: Mamoru Hosoda, Iqura Sugimoto (mangá)
Formato: 13,5 × 20,5, cerca de 200 páginas
Duração: 3 volumes
Periodicidade: Mensal
Preço: R$10,90
Demográfico: Seinen
Gênero: Romance, Ficção Científica
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